denise di mirah

denise di mirah
...uma imagem... Voltei ao meu BLOG no dia 22 de Janeiro de 2011... Se você quiser ler o que escrevo, posto, publico, desde então, sinta-se a vontade, deixe seu comentário, sua opinião para mim será muito importante... pode começar por: "...minha recente imagem...". Tem poucas coisas com datas mais antigas... Mas também estão ai... Mais uma vez... SINTA-SE BEM POR AQUI.

quarta-feira, 2 de março de 2011

E na torneira sai água...

Ouvi há um tempo, sobre o valor de pequenas coisas, o “valorizar” a água que sai da torneira.

Eu então resolvi hoje escrever sobre isto, pois dou um valor enorme à água que sai todos os dias das minhas torneiras... quando as abro.

Morei em Angola por quatro anos, e lá senti na pele o que é não ter diariamente este conforto. Fui criada no interior de Minas Gerais com toda a tranqüilidade que uma cidade razoavelmente pequena nos proporciona. Tinha água e luz elétrica em casa constantemente e cresci assim, achando que isto era igual para todos. Nunca me preocupei com a ausência de bens tão preciosos, principalmente a água. E assim minha vida foi tomando seu curso. E isto era assunto pelo qual eu não precisava ocupar minha mente. Mas minha vida me levou à Angola, país que me acolheu de forma encantadoramente carinhosa. Trabalhei lá por quatro anos e lá também fui uma privilegiada... Morei em condições bastante superiores aos seus milhares de habitantes que viviam e ainda vivem em condições precárias... nos seus musekes e acampamentos pós guerra, dos “retornados”... pois cheguei lá em maio de 2002. Um mês após ser decretado o fim da guerra civil.

Em Luanda, eu tinha casa, um apartamento pago pela empresa que me contratou, água supostamente encanada, luz, e um carro que me levava onde eu precisava ir. E todas as regalias de um trabalhador estrangeiro num país africano. Mas não tinha como eu não sofrer com as condições precárias em que o país se encontrava após anos e anos de guerra, descaso e destruição. A rede de água e esgoto na capital Luanda estava praticamente destruída... antiga...e arrebentava canos por todos os cantos da cidade, diariamente. A energia não era suficiente para todos... e quase todos os dias faltava. Eu tinha o privilégio de ter um geradorzinho em casa, que garantia a luz, a geladeira ligada e um ventilador para os dias muito quentes, quando não podia ligar o ar condicionado, por não ter o gerador, potência suficiente. A água chegava quase sempre... mas de vez em quando desaparecia. No primeiro apartamento que morei, tinha uma bomba que jogava a água do reservatório para os apartamentos, um luxo impagável lá. Eu tinha água na torneira quase que sempre, pois isto foi uma condição pedida para eu estar lá. E sendo assim, eu ainda não me atentava do grande valor que isto tinha, têm. TER ÁGUA EM CASA.

Mudei de apartamento... local agradável... um largo bonito, bem cuidado... que dividia uma grande avenida em duas... Um largo de nome original, Kinaxixi, cenário de um lindo livro de um grande autor angolano... um cano estourou... três meses sem água. Para mim o CAOS... Comprava-se água, um caminhão pipa que enchia a caixa d’água, mas somente de vez em quando, pois nem sempre conseguíamos o caminhão. A solução era meninos contratados para encher os “bidons”- baldes com água e subir os cinco andares de escada. É claro que num país recém saído da guerra, os elevadores não funcionavam... Andares com pé direito alto... padrão de construção portuguesa dos anos 50/60... Três meses de economia de água, de banhos de caneca... Na minha torneira não tinha água...

Ai sim, me atentei ao grande problema que acometia e ainda acometa milhares de pessoas não só em Luanda, não somente em Angola, na África, mas em vários lugares do nosso planeta tão lindo...tão especial... A falta de água...

O maior tempo seguido que fiquei sem água foram estes três longos meses... E quem vive isto por uma vida inteira?

O descaso com a população é visível...e este problema é tão simples de resolver. Há poucos dias, li a informação de que 2% do PIB mundial resolveriam todos os problemas de fome, miséria, falta de água, lixo, moradia, educação, saúde...etc etc etc... da população carente, necessitada, do nosso planeta. Se este dinheiro fosse bem administrado... Mas esta é a questão... SER BEM ADMINISTRADO... Que não caísse nas mãos de corruptos, safados. Se todo ele, fosse usado para o bem comum... transformaríamos esta realidade... Tão pouco... Tão simples... O que fazer? O que podemos fazer?

Quando eu morava em Luanda, uma colaboradora que comigo trabalhava e que tinha mais ou menos 25 anos de idade... nunca tinha visto água sair da torneira da casa dela. Ela não era miserável, nem pobre. Morava num belo apartamento no quinto andar de um edifício bem localizado na capital de Angola. Toda a água que usavam em casa... era levada pelas escadas em baldes, por meninos pagos para isto...diariamente... para encher os bidons maiores que serviam de reservatório para uso da sua família, na área de serviço e nas varandas. Durante todos os seus vinte e poucos anos ela viveu assim... e esta era sua realidade. O país estava em guerra... A guerra era usada como a desculpa principal para esta situação (ela realmente causou muita desgraça ao país). Mas a “real” realidade desta minha funcionária era que o vizinho do primeiro andar... um homem do “poder”... manipulou a água que vinha do fornecimento municipal, para que abastecesse somente a sua casa...a tubulação era ligada à sua residência, já que a estrutura do prédio pediria uma reforma conjunta, para que todos usufruíssem desta água... porque era bem antiga... e egoisticamente foi sendo mudada ao longo dos anos... Mas a reforma seria impossível, pois a situação requereria um esforço conjunto do suposto condomíno de moradores, diálogo não existia, a água era somente dele...e isto foi por toda uma vida... Quando eu voltei de Angola em 2006, a situação dela ainda era a mesma... o vizinho do primeiro andar detinha toda a água... e ela continuava tomando banho de caneca....e o chuveiro enferrujado por falta de uso... por décadas.

Tomando esta pequena reflexão como um simples olhar sobre o fato... Nós que temos o conforto...de ver nossa torneira jorrando água, esquecemos de valorizar o quão é importante ter esta água, que todos os dias pela manhã lava nosso rosto... ajuda na escovação dos nossos dentes... prepara nosso alimento... limpa nossa casa... banha nossa alma!!!

O planeta e o povo que habita esta terra... que dela não usufrui dignamente, precisa de voz, de olhos, de ouvidos, de sentidos!!!

Até***